Tecendo o Destino

Desejamos muitas coisas no fio do tempo de nossas vidas. Coisas que nos serão necessárias, outras pelas quais lutaremos com afinco por pura vaidade. E na medida em que vivemos esta odisseia, a nossa história também vai sendo escrita, não em meros livros, que envelhecem de tal modo que sedem a passagem do tempo que os deteriora. Ao contrário, tais histórias seguem sendo escritas dentro de cada um de nós, entre o dia e a noite, entre a luz e as trevas, entre o choro e o riso, entre o ganho ou perda da qualidade de vida. Não importa. Seguimos respirando, manipulando um fio ou muitos por vez; elaborando cada passo a diante, tecendo ou cortando estes mesmos fios. Em suma, vivendo enquanto estamos vivos.

Quando na vida adulta temos que pensar por nós mesmos e com isso escolhermos os nossos caminhos, estamos elaborando "na roda da fortuna" de nossa mente um fio que nos levará a um possível destino. Uma vez elaborado, imaginado, o fio ainda precisa ser tecido, ato que nos leva do planejamento à execução. O fio após sua concepção pode ou não ter vida longa. Depende apenas de como e quando iremos nos decidir por cortá-lo.

Imagine que você está querendo ver um filme. E isso é o mesmo que elaborar um possível destino. Ir buscá-lo na locadora significa passar do planejamento à execução. Em outras palavras tecer o fio. Mas no trajeto até a locadora você muda de opinião e desiste de ir apanhar o filme. Esta simples decisão termina por cortar o fio de um provável destino, que seria o de assistir a um filme de sua escolha.

Na mitologia contada pelos gregos há três irmãs que controlam o destino de homens e deuses. As tecelãs do destino: Cloto, Láquesis e Átropos, damas sombrias da literatura clássica. Cloto é a que tece, a que manipula e estimula o fio a iniciar sua trajetória na vida. Láquesis avalia os compromissos, as provas e as dores que caberão a cada ser vivo. Átropos, por sua vez, é aquela que tem o poder de cortar o fio da vida com sua tesoura encantada.

Eu não sei a sua opinião, caro leitor, mas tenho comigo que também a nós pobres mortais nos foi dado algum poder sobre o destino que nos aguarda. Ainda que este (poder) seja uma composição de estrofes não simétricas. Ainda que estejamos conscientes dele ou não. Ainda que não tenhamos habilidades em lidar com a "roda" ao tecer os fios.

Acreditar que não possuímos algum controle sobre o nosso destino, a meu ver, seria um erro tão ingênuo quanto confiar que este "poder" também é ilimitado.


Luciano Borges / Professor de Comunicação e Escritor

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