Amigo Secreto

Recentemente, participei de uma confraternização em que experimentei várias emoções. A gerente fez questão da reunião. Não apenas para falar dos assuntos administrativos, resultados e metas da Unidade. Mas como plano de fundo para uma das reuniões, a meu ver, mais importantes do ano. Sim, porque é nesta reunião, antes do recesso para o Natal, em que a equipe toda se reuni. Oportunidade esta em que aproveitamos para trocar presentes de uma forma diferente do habitual “amigo secreto”, mas que no final cumpre o seu papel.Este “amigo secreto” a que me refiro, em nossa reunião de confraternização, assume outro nome: “Troca Trecos”. A dinâmica da brincadeira é bem simples: todos são orientados a se reunirem em um determinado dia, horário e local, trazendo um presente. Até aí muito parecido com o “amigo secreto”, no entanto, no Troca Trecos, você não sabe o nome da pessoa que receberá o seu presente. Muito menos o sexo do indivíduo. Outra regra importante, é que todos os participantes deverão escolher um cartão, a partir de um saquinho cheio deles, contendo um número e uma mensagem que posteriormente será lida para os demais. Assim, quando todos estão com o seu número em mãos, aquele que dentre todos tirou o número 1 começa a brincadeira. A pessoa vai até uma mesa e de lá retira um presente. O presente é então “descascado”, e o seu conteúdo revelado a todos. Caso a pessoa goste do presente, ela ficará com ele. Caso não goste poderá trocá-lo, na sua vez, com outra pessoa que já havia antes retirado da mesa outro presente. Acontece que saí com o número 33 e tive que esperar até a minha vez. Os presentes eram os mais variados possíveis. Contudo, um em especial me chamou a atenção. Tratava-se do livro A Cabana, do escritor William P. Young. Obra que levanta um questionamento atemporal: se Deus é tão poderoso, por que não faz nada para amenizar o nosso sofrimento? O fato é que os meus olhinhos verdes brilharam quando eu vi que havia dois livros da mesma obra (A Cabana). Sorri por dentro e pensei: “as minhas chances acabam de aumentar”. E quando a minha vez chegou. Fui até a mesa e peguei o primeiro presente que encontrei. Abri e o revelei a plateia. Tratava-se de uma agenda. Houve um burburinho aqui e ali por causa da dita agenda, mas o burburinho aumentou mesmo quando anunciei que iria trocar o meu presente. Houve um minuto de suspense. Caminhei pela sala. Notei rostos não muito contentes, como também aqueles que realmente estavam felizes com o presente em suas mãos. Estes últimos, certamente, se chateariam caso lhes confiscasse o objeto de seus desejos. E, claro, isso realmente aconteceu. Pois, logo passei a agenda que estava em meu poder em troca do tão cobiçado livro. Sentei-me em meu lugar muito feliz pela conquista parcial do livro. Contudo, logo experimentei uma grande angústia. Sim, porque alguém poderia, na sua vez, solicitar a troca e ficar com o meu presente. A cada anúncio, o meu coração dava saltos. Até que não restou mais ninguém e pude crer que o livro por direito, dali por diante, seria meu. Sorri uma vez mais, agora grato com a conquista. Mas, não demorou muito, apenas o tempo de chegar em casa, e uma reflexão logo me roubou parte da alegria. A de que só fiquei com o livro porque poucos se interessaram por ele. Talvez isso tenha acontecido porque hoje os tempos são outros. Tempos de correria, de inúmeras mídias, e de uma avalanche de informações diárias a que somos submetidos: jornais, revistas, e-mails, comunidades virtuais, blog, twitter e a lista é grande. O que influi de forma contundente no interesse e na leitura de obras literárias... E eu me aproveitei disso de certa maneira, ao me beneficiar desta triste realidade.

Luciano Borges / Professor e Escritor / lb.letras@gmail.com
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