O Exercício da Empatia


Estou em férias. São apenas vinte dias. Na verdade, três semanas em casa. E para variar... Aluguei um filme, aparentemente inocente.

"Uma Prova de Amor" é o título em questão. E toda a trama se desenrola em torno de três personagens principais. A atriz Cameron Diaz é a mãe de Kate, uma jovem de 15 anos com leucemia diagnosticada e sua irmã caçula Anna. Nas primeiras cenas a família até parece viver muito bem, até que Anna, no alto de seus 11 anos, de uma hora para outra decide que não vai mais ajudar a irmã doente. O que implica e não doar mais sangue, medula óssea ou mesmo um de seus rins. A atitude da garotinha abala a família, principalmente a mãe.

O filme é de extrema profundidade emocional. Ele não te dá tempo para raciocinar. Num primeiro momento você vê a pequena Anna como uma vilã. Uma incoerente monstrinha egoísta, que recorre à Justiça atrás de sua emancipação médica. Em outras palavras: ela quer ter o controle sobre o próprio corpo. Isto é, não ser obrigada, por exemplo, a doar um de seus rins à irmã. No entanto, o diretor do filme (Nick Cassavetes) abusando no uso de flashbacks vai explicando à plateia por quais percalços a garotinha "rebelde" passou, e começamos a olhar a história com mais cuidado. A esta altura você como expectador começa a se perguntar se a decisão da caçula é justa ou não. Até porque se Anna não ajudar, eventualmente Kate irá morrer.

Desde pequeno nós (os garotos) ouvimos que os meninos não choram. Tanto que somos encorajados a não fazê-lo em público. Principalmente se estamos neste ato constrangendo ou incomodando os adultos. Em contraponto, lágrimas reprimidas não fazem bem a ninguém. E por saber disso resolvi dar vazão a elas enquanto assistia ao filme. Mesmo porque o aconchego da minha casa não é um local público, muito pelo contrário. O fato é que pela primeira vez na minha vida chorei durante todo um filme. Choro este que aconteceu por pura empatia. Sim esta capacidade de se identificar completamente com o outro.

Cada pessoa sente o mundo de uma forma; dependendo do contexto, da história de vida, o mundo que nos é apresentado será sentido, vivido, em maior ou menor escala. Simplesmente porque intensidade e sentimento ao chegarem a esse nível caminham de mãos dadas.

Talvez o choro incontido tenha ocorrido em razão das perdas de entes queridos, que de forma irrevogável não tenho mais o prazer da companhia. Talvez tenha a ver com a minha estreita relação com Hospital de Câncer de Barretos, que conheço e admiro como uma inestimável instituição. Talvez eu esteja ficando velho, como dizem os meus alunos, e com isso um tanto quanto mole – manteiga mesmo.

Fica então aqui a minha dica de cinema. Uma boa oportunidade para você, caro leitor, se testar. Talvez você chore menos que eu, ou quem sabe até não chore. Lembre-se, o importante mesmo é exercitar a empatia. Porque exercitá-la tem a ver com acender uma vela nos lugares mais escuros da alma. Ilumine-se.


Luciano Borges/ Professor de Comunicação e Escritor

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