Sobre a Reforma Ortográfica

Olhei este último domigono para as minhas estantes de livros, e não com o orgulho de antes... É, antes era uma alegria só retirá-los das prateleiras, passar-lhes os espanador para depois alinhá-los um a um nalgum canto, enquanto cuidava em passar um pano úmido nos locais onde estavam. Tratava-se de um ritual que me deixava feliz, como visitar um amigo que não se vê há tempos.

Sabe, leitor, eu possuo um modesto acervo em minha casa. Livros que enchem duas estantes de alto a baixo, e que agora se encontram "desatualizados". Eles não vão mais atender na sua plenitude às necessidades das pessoas que por ventura me solicitarem o empréstimo. E tudo porque, alguns acentos e hífens foram alterados. O professor Pasquale num de sues recentes livros sobre gramática disse: "Não gostei da reforma. Sob o pretexto de unificar a grafia do português nos oito países em que ele é língua oficial e simplificar as normas ortográficas, os pais da Reforma não perceberam que seu custo superará - de longe - seus eventuais benefícios". É, ele e uma gama de linguistas não viram com bons olhos esta mudança.

Quanto a mim, quando me perguntaram esta semana no trabalho sobre o que eu achava da Reforma Ortográfica, uma vez que sou formado em Letras, respondi com outra pergunta: "O que você achou da mais nova mudança na Fórmula 1, que diz respeito ao critério para decidir o campeão da temporada?". Meu amigo não tinha a menor ideia do que eu estava falando. E expliquei: "Que de agora em diante o título ficará para o piloto que vencer mais corridas, e não para quem somar mais pontos'. ele me olhou com uma cara de quem não estava entendendo nada. E uma vez mais esclareci: "Você deve estar se perguntando o que isso tudo tem a ver com a Reforma Ortográfica?". Ora, assim como na Reforma, pegaram uma concepção, desejo, conceito, chame do que você quiser, e disseram: '...agora vai ser assim e pronto'. O que importa se vai mais atrapalhar do que ajudar? O que vale mesmo é o gosto que se tem pela ideia elaborada.

Assim, de lá fica a associação das escuderias tentando identificar quais novos problemas hão de sugeir daqui por diante no mundo da Fórmula 1. De cá fico eu, atônito, contemplando os meu livros já não tão "novos" como antes, apesar do zelo e do cheiro de papel recém-comprado.

Luciano Borges
Escritor e Professor
lb.letras@gmail.com

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