O Grupo de Debates


 

"Faça o melhor hoje, Junior". Esta é, na minha opinião, uma das mais belas frases que um pai pode dizer a um filho; algo como uma prece diária.

A frase do parágrafo acima foi ouvida por mim numa agradável tarde de domingo, enquanto assistia ao filme "O Grande Desafio", título em inglês: The Great Debaters. No elenco nada menos que Forest Whitaker, Nate Paker, Jurnee Smolett. O filme conta a história real do professor Melvin Tolson (vivido por Denzel Washington), que ensinando o poder das palavras, leva um grupo de jovens de uma Universidade "negra" Wiley College a participar de um campeonato de debates contra a Universidade "branca" de Harvard. Para Melvin Tolson as palavras têm poder.

Dos 360 alunos da Universidade Wiley, apenas 45 haviam tido a coragem de se candidatarem ao grupo de debates do professor Melvin Tolson, que teria a difícil tarefa de escolher apenas 4 entre os muitos candidatos. Ao professor coube explicar que a arte do debate poderia ser comparada a um esporte sangrento, cujas únicas armas eram as palavras.

O debate surge com uma propositura, uma ideia, um tema. O primeiro arguente propõe a primeira afirmativa. A afirmativa indica que se é a favor de alguma coisa. O segundo arguente proporá a negativa, que, obviamente, diz que o seu grupo é contra. A função de cada grupo de debatedores é rebater o argumento do outro. Isto é apresentar um contra-argumento.

A equipe de Wiley era disciplinada, eles estudavam o tema que seria debatido com muito cuidado e pesquisa. Liam várias obras literárias, experimentavam as mais variadas linhas de pensamento; perscrutavam o que o engenho humano ao longo dos séculos já havia produzido.

Debater é em poucas palavras tratar de, ou simplesmente questionar, contestar. Debater está ligado ao ato de argumentar, porque é na essência a expressão verbal de um juízo. Juízo este que conduz os ouvintes a um raciocínio, em que se aceita a proposição como verdadeira enquanto as razões, provas e testemunhos são apresentados.

Fiquei ao final do filme imaginando, enquanto professor de comunicação oral e escrita, nas possibilidades de se testarmos este modelo de exercício intelectual dentro de sala de aula. Uma vez que trabalharíamos ao mesmo tempo várias das competências essenciais ao desenvolvimento pessoal e profissional de nossos alunos. Sim porque, quem argumenta necessita antes estar preparado para tal. Significa que o arguente pesquisou sobre o assunto. E se houve pesquisa, o exercício da leitura de fato ocorreu. Aliás, o próprio exercício do debate exige que se desenvolva o pensamento lógico, a autoestima e, principalmente, a oralidade.

A Universidade de Harvard foi fundada em 8 de setembro de 1636. Portanto, são 373 anos de tradição. Tradição que formou ao longo destes anos nada menos que sete presidentes. São eles: John Adams, John Quincy Adams, Rutherford B. Hayes, John F. Kennedy, Franklin Delano Roosevelt , Theodore Roosevelt e, recentemente, Barack Obama.

Acredito que já seja hora de se repensar o ensino de um modo geral, mesmo aquele que acontece em nossas escolas técnicas. Até porque, do que adiante um bom profissional de nível técnico que não tem o menor jeito para falar em público (que, aliás, foge destas situações); que não sabe negociar, tampouco convencer alguém, argumentar. Como ele poderá sobreviver no mercado?

Caso não coloquemos tais competências com urgência nas grades de cursos técnicos e de graduação, como poderemos olhar os nossos alunos nos olhos, e lhes pedir que façam o melhor hoje?


 

Luciano Borges/ Professor de Comunicação e Escritor

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