A Prova de Ataliba T. de Castilho


 

"A gente vamos falar errado menas vezes". Assim começa o artigo publicado pela Revista Época em 19 de abril de 2010, que tem como plano de fundo uma foto do linguista Ataliba Teixeira de Castilho ostentando a "prova" do que será o seu mais novo livro a "Gramática do Português Falado no Brasil".

O artigo, uma vez lido, sugere abrir a mente do leitor para o fato de que existe vida além do falar e escrever segundo a língua culta; que se devem valorizar os desvios da norma culta praticados no país; que ao escrever esta nova gramática do português falado no Brasil, fez um retrato da língua como ela é; que não está preocupado com o certo ou o errado.

A matéria informa que a obra não deve ser usada como uma referência de como falar ou escrever dentro da norma culta. Mas ao ser questionado sobre a utilização de sua gramática, Castilho sem titubear emendou: "...para estudos nos cursos de letras e também para o ensino médio". Não lhe parece um contrassenso, caro leitor? Afinal, ela deve ou não ser usada no ensino médio?

Será que os nossos alunos sabem mesmo escolher a variedade linguística apropriada para cada situação? Dia desses recebi por e-mail algumas pérolas do Orkut, com toda a sorte de erros gramaticais possíveis. Fato: o jovem contemporâneo tem dificuldade para escrever segundo a norma culta. Tampouco consegue criticar o que leu, ou detectar o erro ortográfico produzido. Aliás, a este respeito, o que Castilho chama de "rapidez nas abreviaturas", eu chamo de genuíno desconhecimento; condição de quem não é instruído. Exemplo: "vivo como se nao olvesse amanha". Será mesmo que a pessoa queria abreviar houvesse?

Valorizar desvios em detrimento da norma culta não é uma boa iniciativa, explica o professor Evanildo Bechara, o mais importante gramático do Brasil. "É como dizer: 'Se todo mundo está usando o crack, por que eu não vou usar?". E conclui: "Se o aluno aprende a língua que ele já sabe, ou a escola está errada, ou o aluno não precisa da escola".

Muito cedo aprendi que o sábio é aquele que entende a diferença das coisas... A língua é viva, certo? E ela varia no tempo e no espaço. Até aqui tudo bem! Mas, o quanto a língua é vivaz? Será que a ponto de não mais se distinguir o certo do errado na escrita?

O mais intrigante da matéria não está propriamente no artigo em si, mas na foto principal. A qual mostra o linguísta Ataliba Teixeira de Castilho segurando uma "prova" do livro, que pretende "defender" o modo brasileiro de falar a revelia da norma culta. Mas, prova, neste contexto e em "bom português", não é a impressão de um texto para inspeção do trabalho e correção de erros e falhas?


 

Luciano Borges/ Professor de Comunicação e Escritor

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