Imagem Também é Comunicação

A maioria das pessoas, principalmente os nossos jovens, desconhecem o fato de que uma fala repleta de gírias e modismos influenciam na imagem que as pessoas terão dela. O que dificultará muito uma boa posição no mercado, ou em uma entrevista de trabalho. E me desculpem se irão se incomodar, com este artigo, os mais fervorosos linguistas que semeiam a crença de que na fala tudo é válido, simplesmente porque a língua é viva. Concordo que a língua portuguesa seja mesmo viva. Está aí o gerundismo até para quem sente horror ao ouvir. Mas, discordo com a ideia simplista do “vale tudo” na língua falada. E para ser um pouco mais pontual sobre este assunto, caro leitor, vou lhe contar uma passagem que aconteceu comigo...
Dias desses atendi a um telefonema, a pessoa do outro lado da linha era por mim completamente desconhecida. Em outras palavras, não dispunha de qualquer informação a respeito dela. E, acredito, tampouco que ela de mim, afora a informação de que eu seria a pessoa com quem ela deveria tratar um assunto comercial. Fato é que a tal pessoa, disse bem assim, na lata: “Como é nego veio, cê ta bom?”. O sujeito falava como se eu, do outro lado da linha, tivesse algum problema de audição, tamanho o vigor ao pronunciar as palavras.
Num primeiro momento tentei reconhecer a voz. Talvez fosse algum amigo brincando comigo, pensei. Mas a busca pela memória foi em vão. Nunca havia ouvido aquela voz seca e estridente. Aliás, fiquei ainda mais intrigado, quando o tom da conversa caminhou para um assunto de trabalho, que consensualmente deveria se dar num clima mais formal. Todavia, o rapaz, o meu interlocutor, parecia que me conhecia a décadas, como se tivéssemos crescidos juntos, experimentado, como melhores amigos, as dores e benesses da infância e da adolescência.
Certamente na ânsia de ser o mais extrovertido e carismático possível, o homem com quem eu falava pecou pelo exagero. São estes pequenos detalhes, a atenção a eles, que faz toda a diferença em uma conversa que num primeiro momento deveria ser formal. Isto é, o diálogo deveria acontecer num tom mais agradável, nem alto, nem baixo demais, e sem o uso de gírias ou jargões. Mesmo porque se está tratando de assuntos de trabalho com um completo desconhecido. E o uso de uma falsa intimidade bem como de gírias não vão causar, quanto mais deixar, uma boa impressão. Tal situação não seria muito diferente de você, caro leitor, ir a um casamento, por exemplo, de chinelas, bermuda e camiseta cavada. Fatalmente as pessoas iriam reparar em você e desaprovar a sua atitude, mesmo que este fosse o seu meigo e natural jeito de ser. Lembre-se, fale o mais claro possível. Mas não fale de qualquer jeito; a forma de uma pessoa se comunicar diz muito sobre ela.
O importante é que todo falante cuide de sua imagem também através da fala. Afinal uma boa imagem, como nos ensina o dito popular, vale mais do que mil palavras.

Luciano Borges / Escritor e Professor

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