Pessoas São como Tintas. Situações como Folhas

História. Muitos de nós não se dão conta de que a cada página virada no livro da vida, a cada dia de respiração e transpiração, o homem “escreve” a própria história.
Certa feita, quando do lançamento do meu livro mais recente, “Motivação e Poesia na Gestão de Pessoas”, um humorista da tevê local me fez a seguinte pergunta: “Faça um balanço do ano de 2008”. Confesso que fiquei aturdido na ocasião com a pergunta. Aliás, o que tinha a ver o balanço de todo um ano com o lançamento do meu segundo livro de poesias, em parceria com o consultor motivacional Itamar Alli? Lembro que encarei o humorista tentando buscar alguma explicação na sua fisionomia. Mas, o peralta manteve-se firme e me encarava a sério. Pilhéria, galhofa e zombarias a parte, foi depois de alguns dias que assisti à famigerada gravação do programa; eles haviam retirado na edição tudo o que falei, e colocado uma música super engraçada no lugar. Nem preciso dizer que quase morri de rir de mim mesmo. Foi um mico, digamos, diferente; daqueles que se sente prazer ao participar...
Aqui um pequeno parêntese: a palavra história no português tem o mesmo número e sílabas (­idênticas) que no grego e no latim. Contudo, em grego o acento agudo é no “i” e no latim, não há acento algum. História, no dicionário, é toda narração metódica dos fatos notáveis ocorridos na vida dos povos... Acredito muito nesta definição que o Aurélio nos apresenta, mesmo porque a história de um homem não pertence apenas a ele. Em verdade, a história de uma pessoa é uma miríade de encontros e desencontros; um emaranhado de relatos; informações sobre o que somos e como os outros nos veem. Também é uma narração, como disse a pouco, de fatos notáveis.
...É certo que retiraram o áudio da minha entrevista, caro leitor. Contudo, para o caso de ter ficado curioso, vai aqui o que disse muito seriamente aos humoristas. Comentei: “Dois mil e oito foi o ano em que lancei o meu primeiro livro com toda a pompa e no local que havia sonhado”. Inúmeras pessoas ajudaram a viabilizar o livro, para que o rebento viesse à luz; tratava-se de um projeto complexo e inédito em nossa região: um livro áudio. Sou muito grato a todas as pessoas que de alguma forma contribuíram. Realmente, um fato notável em minha vida. Mas, 2008 me reservava outros “fatos notáveis”, como a compra da minha casa, o meu cantinho, assim como a experiência de viver uma formatura; tornava-me, então, um professor.
Se ao acordamos começamos a escrever mais uma página de nossas vidas, bendito é aquele que se dá conta do livro que escreve. O que realmente importa é que não deixemos mais que algumas poucas folhas em branco; seja ele (o enredo) notável ou não. Até porque a meu ver, caro leitor, pessoas são como tintas e, situações, como folhas.

Luciano Borges / Escritor e Professor – lb.letras@gmail.com

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