Pandemia de Vírus e Pessoas

Pandemia é uma palavra grega que faz referência no português aos vocábulos “tudo” e “povo”; significa que uma doença epidêmica se espalhou amplamente; que ela surgiu rapidamente em um lugar e acometeu, dentro de um período de tempo, grande número de pessoas.
Uma pandemia pode começar, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), quando alguns fatores se reúnem como, por exemplo, frente ao aparecimento de uma nova doença à população. Doença essa em que o agente infecta humanos e se espalha entre eles de forma sustentável, causando doença séria. A humanidade já enfrentou inúmeras pandemias em sua história. Há inclusive registros de epidemias que aniquilaram cidades inteiras (febre tifóide, varíola, peste bubônica, cólera, tifo...).
Nos últimos tempos, temos visto correr o país uma verdadeira “pandemia” das águas. Enchentes que inundam casas até o teto de Norte a Sul do Brasil, devido às fortes chuvas que se acumulam e faz transbordar rios e lagos. Tais enxurradas por onde passam, levam consigo não somente os bens materiais, mas essencialmente os sonhos e um número sem conta de vidas humanas. Águas que arrastam tudo à sua frente: redes elétricas, estradas, paredes, utensílios domésticos – assim como um grande volume de terra que ora ou outra enterra famílias inteiras... Enquanto homens e a atmosfera enlouquecem, o clima segue gritando a plenos pulmões, a mais de 100 quilômetros por hora, vergando no seu caminho árvores de todos os tamanhos que caem sobre carros que na maioria dos casos não têm seguro.
Não bastasse a pandemia viral ou atmosférica, outro dia assisti consternado a uma endemia diferente: pessoas eram expulsas de suas casas como fossem doença séria, que pela suas existências constantes e característica de ocuparem determinados locais, dentro de um período de tempo, necessitavam ser erradicadas. Fato é que pessoas humildes sem terem como comprar um terreno construíram suas casas em chão alheio. Resultado: expedida a reintegração de posse, não importava o desespero de velhos ou crianças, sequer a condição de “não ter para aonde ir”, todos eles viram suas casas serem demolidas, tijolo após tijolo, diante de seus olhos marejados. Olhos marejados na angústia de não vislumbrar adiante a menor perspectiva, na medida em que assistiam indefesos poderosos tratores, tal como fortes enxurradas, destruírem num minuto o que se levou meses a construir.
Diante do referido aqui, caro leitor, tive o meu momento de introspecção. E, reduzido ao tamanho de um vírus, dei graças: quer pelo teto próprio sobre minha cabeça, quer pela saúde que ora derramo na forma de letras sobre este “papel”.

Luciano Borges / Escritor e Professor

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