A Violência de um Macho

Já faz alguns dias que ouvi de um senhor experimentado uma passagem bem interessante. O senhor em questão, magro e alto, tinha a voz decidida, digna de uma personalidade forte. Contava o causo não para mim, mas para outra pessoa. Na verdade, caro leitor, é que eu tinha os olhos no meu celular e os ouvidos grudados no assunto deles. Até porque virou moda nos refugiarmos no tal aparelhinho todas as vezes que não queremos puxar conversa com desconhecidos. Isto é, falar sobre como o tempo está quente, ou sobre como as chuvas não param etc. Mas, enfim, o fato é que a anedota me interessou. Depois fiquei sabendo o nome do tal senhor, chamava-se Fernando.

Fernando dizia sobre uma passagem da vida dele, quando foi interpelado sobre o fato de ter servido o exército. Quem perguntava havia, do mesmo modo, servido à marinha do Brasil. E, no calor das palavras, o marinheiro disse-lhe: “Que isso sim, era coisa de macho”. Mas espantado ficamos eu e a audiência, que acompanhava o relato, sobre o que falou o enérgico Fernando ao marinheiro: “O que isso tem a ver? Coisa de macho? Me parece que pra você macho é ser valente; daqueles que não levam desaforo para casa; que não hesitam em sair na mão seja lá com quem for... Como aquele garoto, personagem da novela das oito... Eu? Eu sou um homem! Daqueles que gostam de respeito, cortesia e boa educação. O resto, os machos, não passam de cafajestes; de animais do sexo masculino, como nos ensina o bom e velho dicionário”.
Desnecessário dizer, leitor amigo, que fiquei ainda mais interessado no desfecho da história, que não demorou nada, nadinha: “Claro que o marinheiro não gostou do que ouviu. E realmente me disse isso com todas as letras. O que lhe respondi com uma pergunta: como ele gostaria então de resolver a situação; esse desconforto que estava sentido? Resolveríamos à maneira de um homem, ou à maneira de um cafajeste? O marinheiro pensou um pouco e envergonhado respondeu: como um homem, é claro!”.
O que dizer de homens que se realizam como “machos”, simplesmente por serem capazes de constranger fisicamente outra pessoa? A meu ver são tipos violentos que na verdade não amadureceram; comportam-se como brigões e se autoafirmam pelo uso da força. Ao contrário de um homem de verdade que, por acreditar na divergência e na pluralidade de opiniões, procura impor suas ideias lançando mão unicamente de sua inteligência. Uma vez que este notável convence e persuade sem levantar um dedo. Foi o que fez o Sr. Fernando da história acima ao tratar com o marinheiro. Domou a fera apenas com a sagacidade de seus argumentos.
Homens violentos terminam todos como o personagem do mais novo livro de Khaled Hosseini, cujo título é “A cidade do sol”. Nesta obra fantástica da “ficção”, um marido violento só consegue trazer a ruína para si ao espancar, não uma, mas inúmeras vezes as suas mulheres. Sim porque no Afeganistão um homem pode ter mais de uma mulher. A cultura daquele país lhe garante isso. Porém, em qualquer cultura a violência gera violência.Fato é que vivemos a sociedade do conhecimento. E, por acreditar nisso, entendo que vivemos o tempo de olhar o outro e, ao fazer isso, encontrar a nós mesmos.

Luciano Borges / Escritor e Professor

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